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Quinta-feira, 30 de Novembro de 2006

Guerra e Paz - e Pobreza

Pobreza Infantil e o Orçamento da "Defesa"

Foi o jornal Daily Telegraph, e não o “liberal” Independent ou o Guardian, que publicou acusações, na semana passada, de que Tony Blair está “a gastar perto de 7 mil milhões de libras [cerca de 10,37 mil milhões de euros] do dinheiro dos contribuintes numa insatisfatória guerra ao terrorismo”. (Toby Helm e Brendan Carlin, 'Anger at £7bn cost of war on terror,' Daily Telegraph, 20 de Novembro de 2006)

Sem surpresa, o Telegraph, relatava a partir do próprio esquema de propaganda do governo sobre a “guerra ao terrorismo”. Mas a cobertura noticiosa foi bem vinda, dado ter revelado o imenso custo financeiro público da invasão e ocupação do Iraque e do Afeganistão, que tem sido silenciado.

A notícia adiantava que Blair e o seu cúmplice “Tweedledum/Tweedledee”, Gordon Brown, tinham orgulhosamente “proclamado um financiamento especial” dos contribuintes britânicos para o Iraque, Afeganistão e Paquistão: totalizando 844 milhões de libras [1,25 mil milhões de euros]. Este anúncio de financiamento aconteceu apenas dois dias depois de Blair ter admitido, numa entrevista à Al-Jazeera, que a invasão do Iraque em 2003 tinha sido um “desastre”. Perturbados oficiais do governo têm desde essa entrevista tentado voltar atrás freneticamente, considerando que foi um “lapso” do Primeiro-Ministro.

No dia seguinte à notícia do Telegraph, a Press Association (PA)[agência de notícias britânica] informou que o “financiamento especial” fazia parte de um enorme aumento no limite de gastos do Ministério da Defesa: até 1,6 mil milhões de libras [perto de 2,38 mil milhões de euros] para o próximo ano financeiro. O Secretário de Estado da Defesa, Des Browne, deixou escapar sorrateiramente numa declaração escrita: o já enorme orçamento do Reino Unido para a “defesa” seria aumentado de 32 mil milhões de libras [47,37 mil milhões de euros] para 33,6 mil milhões de libras [49,74 mil milhões de euros, aproximadamente] em 2006-07. (Ben Padley, 'MoD seeks extra £1.4bn for Iraq and Afghanistan,' PA, 21 de Novembro de 2006)

Vários dias depois, as bases de dados dos meios de comunicação não mostravam nenhuma referência ou seguimento desta notícia da PA. A única excepção é um artigo de opinião de George Moninbot no Guardian de hoje [28 Novembro]. Ele assinala o grande aumento no orçamento militar:

“Ninguém reparou, Ou se o fizeram, ninguém se queixou. O governo nem se deu ao trabalho de emitir uma declaração à imprensa.” (Monbiot, 'Only paranoia can justify the world's second biggest military budget,' The Guardian, 28 de Novembro de 2006)

Para além disso, como explica o investigador Chris Langley, mesmo o citado limite de gastos do ano anterior de 32 mil milhões de libras [47,37 mil milhões de euros] é “enganoso” (Langley, comunicação por ele feita, 27 de Novembro de 2006). Os reais gastos, incluindo depreciação e custo de amortizações, foram de 39,8 mil milhões de libras, de acordo com os dados produzidos pela Agência de Estatística da Defesa. (http://www.dasa.mod.uk/natstats/ukds/2006/c1/table11.html)

 

Andando Acima dos Seus Limites – Pisando os Pobres

Em termos de dinheiro, como apontou Monibot, o orçamento militar da Reino Unido é o segundo mais alto do mundo (depois dos EUA). Mas na realidade, como muitas vezes nos recordam os políticos e os media, o nosso país gosta de “voar alto” nos assuntos globais. A “Defesa” é o quarto maior consumidor de dinheiro dos contribuintes do Reino Unido, depois da segurança social, saúde, e educação. (Chris Langley, 'Soldiers in the Laboratory,' report, 79pp., Scientists for Global Responsibility, Janeiro de 2005; www.sgr.org.uk/ArmsControl/MilitaryInfluence.html)

Os grandes meios de comunicação raramente questionam porque é que uma tão grande porção do orçamento vai para o sector militar. É difícil encontrar uma discussão sobre o impacto que estas finanças distorcidas podem ter no apoio estatal aos serviços públicos de saúde, educação e justiça social em geral. Em particular, não há nenhum debate que faça a ligação entre o grande orçamento militar do Reino Unido e as consequências para a erradicação da pobreza infantil – um escândalo que está a acontecer. Hilary Fisher, directora da associação End Child Poverty [Acabar com a Pobreza Infantil], assinala:

“Num país tão rico como a Grã-Bretanha é embaraçoso e chocante que ainda haja crianças a viver na pobreza.” (www.ecpc.org.uk/index.php?id=4)

A associação cita algumas tristes realidades da pobreza infantil no Reino Unido:

400 000 crianças têm uma dieta inadequada.

Perto de 52 000 famílias com crianças, ficaram sem casa em 2005.

Os custos crescentes do gás e da electricidade implicam que seja esperado que três milhões de famílias fiquem incapazes de aquecer as suas casas neste ano.

Crianças de famílias de trabalhadores indiferenciados têm 15 vezes maior probabilidade de morrer num incêndio doméstico.

Como diz um pai de três crianças no Norte de Londres:

“O pior de tudo é desprezo dos nossos caros concidadãos. Eu e muitas famílias vivemos num total desprezo.” ('Making UK poverty history,' Oxfam GB, BOND, End Child Poverty Coalition and the TUC, Outubro de 2005, report, 20pp., www.oxfmagb.org)

Em Outubro, a associação End Child Poverty [Acabar com a Pobreza Infantil] pediu a Gordon Brown para disponibilizar uns meros 4 mil milhões de libras [5,9 mil milhões de euros] para acabar com a pobreza infantil na Grã-Bretanha. Esta associação avisou: “É claro que as políticas e os recursos actuais não irão permitir ao governo atingir os seus objectivos.”

Mas é preciso espreitarmos num jornal de pouca tiragem, o Morning Star, para juntar um mais um e concluir o óbvio. Um recente editorial diz que, em Março de 1999, Tony Blair prometeu erradicar a pobreza infantil “numa geração”, apontando o objectivo para 2020. (Editorial, 'Sick set of priorities,' Morning Star, 20 de Novembro de 2006).

Em Março de 2006, o governo viu-se forçado a anunciar que tinha falhado – por uma margem significativa – em atingir o primeiro objectivo desse projecto. Tinha propagandeado que iam reduzir o número de crianças a viver na pobreza em 25% - aproximadamente um milhão – e falharam por 300 000.

O editor do Morning Star escreveu:

“Há 3,4 milhões de crianças britânicas ainda a viver na pobreza por causa desse falhanço, perto de um quarto da população com idade inferior a 16 anos, num país que se vangloria de ser a quinta maior economia do mundo.”

O editorial assinalava o escândalo do pedido de Blair, no mesmo mês em que foram publicadas estas estatísticas da pobreza, de uma renovação da “dissuasão” nuclear britânica. Ou, como diz o jornal de forma sagaz, uma substituição “do irrelevante, ineficaz, e ainda não usado, sistema de mísseis Trident, com um custo estimado em cerca de 25 mil milhões de libras [perto de 40 mil milhões de euros]”.

E mesmo o desconcertante número de 25 mil milhões é apenas uma estimativa por baixo, do custo final para o público. Uma reportagem do Guardian, baseada em cálculos dos Liberais Democratas, estima um número muito mais alto de 76 mil milhões de euros [112,4 mil milhões de euros]. Esta seria a arca do tesouro necessária para comprar mísseis, substituir quatro submarinos nucleares, e manter o sistema durante o seu prazo de validade de 30 anos. (John Vidal, Tania Branigan and James Randerson, 'Global warming: Could scrapping these... ...save this?', The Guardian, 4 de Novembro de 2006)

O Dr. Stuart Parkinson, Director Executivo dos Cientistas pela Responsabilidade Global, enviou-nos a sua resposta aos planos do governo de substituir o Trident:

“É extremamente perturbador que o governo pareça disposto a tomar a decisão de patrocinar um novo sistema de armas nucleares – cujo custo total pode ser tão alto como 76 mil milhões de euros [112,4 mil milhões de euros] – enquanto a pobreza infantil ainda existe no Reino Unido.” (por correio electrónico, 28 de Novembro de 2006)

 

A Caravana Polly Cameroniana

Infelizmente, a mesma rectidão no desafio às prioridades estabelecidas esteve ausente no artigo sobre a pobreza da colunista Polly Toynbee, do jornal Guardian, na semana passada. (Toynbee, 'If Cameron can climb on my caravan, anything is possible,' The Guardian, 22 de Novembro de 2006). Durante muitos anos, Tonybee construiu uma reputação, no público em geral, de social democrata campeão da causa da redução da pobreza.

“Para os Conservadores admitirem que ignorar alguma pobreza foi um terrível erro, represente um grande avanço,” declarou no seu artículo.

E – outra pérola de Toynbee – o líder Conservador, David Cameron, “facilita aos Trabalhistas serem arrojados sobre a pobreza, atingir esse objectivo de abolir a pobreza infantil em 2020”.

Esta foi uma análise trivial. Toynbee deu, deste modo, crédito ao líder conservador David Cameron pela sua tentativa falhada de abafar o assunto da pobreza. Não houve nenhuma menção às políticas corporativas apoiadas por este partido, e seguidas pelo estado, qualquer que seja o partido no poder, em prejuízo da justiça social – incluindo quaisquer esperanças realistas de abolir a pobreza infantil. Como escreveu o historiador radical Mark Curtis:

“Almejar a erradicação da pobreza sem mexer nos grandes negócios é quase como abordar a malária sem falar dos mosquitos.” (Curtis, 'Web of Deceit,' Vintage, 2003, p.217)

Escrevemos o seguinte a Toynbee:

“Não há nenhuma menção no seu artigo às distorcidas prioridades dos gastos governamentais, como o seu inchado orçamento da “defesa”; e, especificamente, se o estado deve pagar milhares de milhões pela invasão-ocupação do Iraque.

Ou, olhando para a coluna de Richard Norton-Taylor's que está imediatamente à direita da sua ['Beware Trident-Lite'], se pagar uma grande soma pela actualização da nossa “dissuasão” nuclear é ou não um uso responsável dos dinheiros públicos.

Porque é que não considerou relevantes estes aspectos no seu artigo sobre a pobreza actual?” (Por correio electrónico, 22 de Novembro de 2006)

Em resposta, recebemos uma interessante variação da velha história da “falta de espaço”:

“Bem, não podemos meter tudo numa coluna! Ou teríamos sempre a mesma…” (Por correio electrónico, 23 de Novembro de 2006)

Uma resposta como esta faria sentido se Toynbee tivesse examinado repetidamente a ligação entre os exorbitante gastos militares – a substituição do Trident, em particular – e a falta de progressos na erradicação da pobreza infantil. Mas, nos últimos dose meses, ela apenas aflorou duas vezes uma possível ligação. É uma performance baixinha para alguém que tem os louros, nos grandes meios de comunicação, de estar empenhada na exposição da pobreza e da justiça social. E, desta forma, as suas respostas entram no campo das evasivas liberais.

Também escrevemos a Andrew Grice, editor de política do jornal Independent, por causa da sua coluna sobre o mesmo tópico. ('The week in politics: Beckham, Toynbee and the Tory view of poverty,' The Independent, 24 de Novembro de 2006):

“Você refere ‘as causas principais da pobreza profunda, tais como os problemas com o álcool e drogas, e uma pobre educação e condições da habitação’. Porque é que não há nenhuma menção, no seu artigo, às prioridades distorcidas do estado no gasto do dinheiro dos contribuintes; em particular, as grandes somas gastas na ‘defesa’?

Como deve saber, Tony Blair, na semana passada, enfrentou acusações de que ‘estava a gastar perto de 7 mil milhões de libras [10,37 mil milhões de euros] dos contribuintes numa insatisfatória guerra ao terrorismo.’

Para além disso, o Secretário de Estado da Defesa, Des Browne, acabou de anunciar um aumento no orçamento militar anual do Reino Unido, passando de 32 mil milhões de libras [47,37 mil milhões de euros] para 33,6 mil milhões de libras [49,74 mil milhões de euros] para 2006-07.

E ainda há a proposta de substituição do Tridente, a um custo de 25 mil milhões de libras [perto de 40 mil milhões de euros] ou mais. De facto, cálculos feitos para a compra de novos mísseis, substituição de quatro submarinos nucleares, e manutenção do sistema durante 30 anos, sugerem uma soma total a rondar os 76 mil milhões de libras [112,4 mil milhões de euros].

Porque é que considerou irrelevante, tudo isto, na sua coluna de opinião desta semana?” (Por correio electrónico, 24 de Novembro de 2006).

Na altura em que estamos a escrever ainda não obtivemos resposta.

 

Comentário Final

Os repórteres e comentadores corporativos aperfeiçoaram a arte de não fazer ligações dolorosas; isto é, dolorosas para os interesses poderosos. Assim, a vergonhosa pobreza infantil e o enorme orçamento militar estão em compartimentos diferentes do pensamento geral. É uma tristeza isto acontecer a alguém que devia olhar para um, e depois para o outro, e pensar em voz alta se a política estatal é, de facto, louca.

É como se o estado estivesse focado em *excluir* a racionalidade; de facto, excluir a compaixão.

Chogyam Trungpa disse uma vez que “a compaixão é a máxima atitude da riqueza: um atitude anti-pobreza, um guerra à ganância. Contém todos os tipos de qualidades heróicas expansivas, sumarentas, positivas, visionárias”. (Trungpa, 'Cutting through spiritual materialism', Shambhala, 2002, p. 99)

 

 Na raiz, temos de questionar se o estado pode, de forma significativa, agir com racionalidade e compaixão. E, se não, o que vamos fazer em relação a isso.

 

Texto publicado a 28 de Novembro de 2006, em http://www.medialens.org/alerts/index.php e traduzido por Alexandre Leite.

 

publicado por Alexandre Leite às 18:03

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Sexta-feira, 24 de Novembro de 2006

As mulheres não vão desistir

“As mulheres não vão desistir, nem aqui nem em nenhum lado”, um cântico numa manifestação de mulheres em Oaxaca, 7 de Novembro de 2006.

 

As pessoas do estado de Oaxaca estão sob ataque do governo mexicano: nas ruas estão 10,000 polícias, 3,500 polícias anti-motim com bastões, e a apoiá-los há 3,000 polícias militares munidos com armas automáticas. 5,000 militares estão à espera fora da cidade, enquanto um número desconhecido de paramilitares apoiados pelo Partido Revolucionário Institucional (PRI) andam ainda a disparar.

 

Tudo começou a 14 de Maio de 2006, quando 70 mil professores de Oaxaca entraram em greve com um grande apoio popular da cidade. A greve não terminou. Em vez disso o governador de Oaxaca, Ulises Ruiz Ortiz, mandou a Polícia Federal Preventiva (PFP) acabar com os protestos. Tiveram que lidar com uma resistência feroz por parte dos professores bem como dos cidadãos de Oaxaca. Esta situação levou a uma intensificação da violência e da repressão governamentais, o que não intimidou a população civil: homens, mulheres e crianças vieram para as ruas, em defesa da sua terra, da sua dignidade, e de um futuro democrático; eles montaram barricadas e enfrentaram a PFP com paus, pedras e camiões. As mulheres fizeram e distribuíram máscaras contra os ataques de gás lacrimogéneo, feitas a partir de pensos higiénicos.

 Mulheres em Oaxaca

O número aproximado de detidos, até agora, é de 85. Cerca de 34 pessoas desapareceram e 15 foram mortas por forças policiais ou paramilitares. De facto, todos os dias há numerosos actos de agressão a membros da APPO, das suas famílias e apoiantes. As mulheres são especialmente atingidas, como se viu nos ataques em Atenco, em Maio de 2006, onde as mulheres foram procuradas e violadas pela PFP. Muitas mulheres de Oaxaca estão actualmente detidas, por causa dos seus actos de resistência. Numa carta de oito prisioneiras políticas detidas em Chiconautla

e Santiaguito, elas dizem que, “Eles ensinaram-nos a unir todas as lutas.”

 

A 7 de Novembro de 2006, 5,000 mulheres vieram para as ruas pedindo a demissão do governador de Oaxaca, Ulises Ruiz Ortiz, a libertação de todos os prisioneiros políticos, e o retorno dos desaparecidos. As mulheres confrontaram a polícia gritando “Assassinos!” e a polícia respondeu disparando canhões de água contra elas.

 

Tal como as mulheres de Oaxaca resistem heroicamente aos massacres do governo mexicano contra o seu povo e o tomada da sua terra, noutro ponto do mundo, também as mulheres palestinianas resistem: a 3 de Novembro de 2006, as forças de ocupação israelitas, cercaram cerca de 70 combatentes da resistência palestiniana numa mesquita em Beit Hanoun, Palestina. Em resposta, aproximadamente 1500 mulheres palestinianas desarmadas, desafiaram o recolher obrigatório e caminharam da povoação próxima de Beit Lahiya até à mesquita em Beit Hanoun. Romperam um cordão israelita de tropas e tanques, gritando aos militares israelitas para abandonarem Gaza. Elas rodearam a mesquita e algumas mulheres entraram e levaram roupas para disfarçar os homens da resistência. As forças de ocupação israelitas disparam contra o grupo, matando duas mulheres palestinianas. Uma morreu no local, outra morreu depois no hospital. 17 mulheres ficaram feridas, quando as tropas de Israel dispararam contra a multidão de mulheres desarmadas. Esta acção das mulheres palestinianas conseguiu a libertação de 70 combatentes da resistência palestiniana.

 Mulheres na Palestina

A contagem de mortos em Beit Hanoun, durante a semana deste cerco, ultrapassou as 90 pessoas, e mais de 300 palestinianos foram feridos.

 

“A lição que o mundo tem de aprender com a semana passada em Beit Hanoun é que nós palestinianos nunca iremos abandonar as nossas terras, cidades e vilas. Não vamos abdicar dos nossos direitos por um pedaço de pão ou por uma mão cheia de arroz. As mulheres da Palestina irão resistir a esta monstruosa ocupação que nos é imposta com armas apontadas, cercos e fome. Os nossos direitos e os das nossas gerações futuras não são negociáveis. Quem quiser a paz na Palestina e na região, tem de dirigir as suas palavras e sanções ao ocupante, não ao ocupado, ao agressor, não à vítima. A verdade é que a solução está em Israel, no seu exército e nos seus aliados – não nas mulheres e crianças palestinianas.” – Jameela Al Shanti é membro eleito do Conselho Legislativo Palestiniano do Hamas e ajudou a organizar e liderar um protesto de mulheres contra o cerco de Israel em Beit Hanoun, a 3 de Novembro de 2006.

 

Para mais informação ver:

 

www.oaxacarevolt.org

www.onepalestine.org

 

 

Texto publicado em http://www.fileden.com/files/2006/7/6/111531/OaxacaPalestineflyer2.pdf . Traduzido por Alexandre Leite.

publicado por Alexandre Leite às 23:49

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Segunda-feira, 20 de Novembro de 2006

Movimento Popular de Oaxaca com Seis Meses

Detenções, Desaparecimentos, Assassinatos e Violações dos Direitos Humanos são Inúmeras mas Não Conseguiram Parar a Luta

 

Por Nancy Davies
Comentário a partir de Oaxaca

17 de Novembro de 2006

Instalarem-se as mesas no acampamento de Santo Domingo agora ocupado pela APPO é uma clara indicação da gravidade do assunto dos direitos humanos em Oaxaca. A qualquer hora do dia ou da noite é possível encontrar as mesas guardadas por advogados dos direitos humanos ou por professores. Noutras alturas, voluntários ocupam-se das mesas onde são registados os nomes de desaparecidos pelas suas famílias, num livro. As listas são publicadas pela Liga Mexicana Em Defesa dos Direitos Humanos (LMEDDH).

De 29 de Outubro a 14 de Novembro, desapareceram trinta e uma pessoas. Das 104 pessoas detidas ilegalmente, 95 foram libertadas, 9 ainda estão em prisões estaduais. Os crimes de que são acusadas incluem obstrução da via pública, insurreição, associação criminosa, conspiração, roubo, rebelião e ameaças. Foram emitidos mandatos para vários professores e pessoas da APPO, que andam de noite de casa para casa para dormirem. A PFP [Polícia Federal Preventiva] entrou ilegalmente em casas para procurar e levar pessoas. Na Rádio Universidade, a agora famosa Doutora Berta, cuja voz é tida como a voz da sanidade, da calma e da razoabilidade no ar, não sai das instalações da universidade. Como outros, ela vive praticamente dentro dos seus muros protectores. A Rádio Universidade ainda emite, mas o seu sinal está a ser bloqueado pelo governo.

15 de Novembro foi o dia marcado para Ulises Ruiz Ortiz fazer a sua mensagem do “estado do Estado”, chamada “informe”. Supostamente iria ilustrar a governabilidade de Oaxaca, e como as coisas estão a ir bem. Devido ao nível de “governabilidade” existente, o governador entregou a sua declaração escrita ao seu Secretário de Governação para que ele o entregasse aos legisladores. Ao mesmo tempo, o governador pediu 123 mil milhões de pesos [perto de 8,7 mil milhões de euros] ao governo federal, para acabar com o movimento da assembleia popular em Oaxaca. Apesar de Ulisses Ruiz reclamar que o estado funciona normalmente, no entanto ele apela ao envio de mais tanques e armamento. O informe pede uma mão firme por parte de Felipe Calderón.

Desculpem lá, mas isto parece uma clara admissão de que o estado não está governável.

A APPO, no dia do informe, optou por demonstrar que Oaxaca é de facto ingovernável. Foram marcadas marchas a partir de três locais diferentes, para exigir a saída da PFP.

A marcha com perto de 10 000 professores de Valles Centrales e Sierra Norte, mais os apoiantes da APPO, teve de lidar com ataques da PFP a partir de “telhados amigos” ou de casas particulares, usando fisgas para disparar berlindes de vidro contra os manifestantes (esta táctica de provocação também foi usada a 2 de Novembro). A marcha, que tinha tido origem fora do centro, aproximava-se agora dum ponto a sul do zócalo [centro da cidade] onde um ou dois manifestantes, apesar dos apelos da APPO para não haver retaliação às provocações, provocaram a Polícia Federal Preventiva que guardava o zócalo. A PFP respondeu primeiramente a cânticos de “Oaxaca não é um quartel”, “PFP fora de Oaxaca” e outros slogans, com pedras e berlindes lançados com fisgas. Os manifestantes responderam com pedras e garrafas de água. Depois, a PFP lançou gás lacrimogéneo. O cruzamento onde ocorreram as confrontações fica perto de lojas e da escola primária Enrique C. Rebsámen, onde cerca de 400 estudantes estavam nas aulas. O gás espalhou-se para todos os lados, causando preocupação tanto aos lojistas como aos alunos. Os manifestantes passaram para outra rua.

Ao mesmo tempo, ocorreram outras duas manifestações na cidade de Oaxaca e uma outra em Istmo of Tehuantepec. Várias estradas estiveram bloqueadas.

Nesse mesmo dia, dois jovens fotógrafos foram raptados no zócalo. Foram levados num veículo com matrícula, anotada pela assistência. Uma mulher que andava às compras viu a PFP a agarrar nas câmaras, mandar os dois fotógrafos ao chão e pontapeá-los. Os homens, que tinham estado a tirar fotografias aos agentes da PFP, foram em primeiro lugar interpelados por um oficial que os mandou parar. Depois, a polícia levou a suas mochilas. A mulher que assistiu a tudo isto acercou-se dos polícias e disse-lhes que aqueles homens estavam nos seus direitos, que eram cidadãos oaxaquenhos, e que não estava certo o que a polícia estava a fazer. Um grupo de polícias rodeou a mulher numa tentativa de a intimidar. Depois rodearam os dois homens e empurraram-nos brutalmente para dentro de um carro da polícia e arrancaram.

A PFP tirou depois muitas fotografias a essa mulher e segui-a no caminho que ela fez em direcção à barricada de Cinco Señores para contar o rapto que tinha acontecido. A mulher foi posta em contacto telefónico com os observadores dos direitos humanos, com os quais falou longamente, descrevendo a situação, os homens raptados, o carro (com os números da matrícula) que os levou. Depois da chamada telefónica ela continuou a exprimir a sua raiva e desgosto relativamente à polícia, em termos que indicavam que a dona de causa na sua ida às compras se tinha radicalizado abruptamente.

Em dois dias, os advogados dos direitos humanos obtiveram a libertação destes dois fotógrafos, que claramente tinham sido presos sem base legal. Os fotógrafos estrangeiros são extremamente cautelosos, e relataram terem sido perseguidos. Esta “guerra suja” está a crescer em Oaxaca, com paramilitares, desinformação na imprensa, intimidação e repressão nas várias formas de discurso político.

Observadores estrangeiros parecem estar em todo o lado – não apenas amadores mas pessoas com renome (aqui são desconhecidos) incluindo um médico americano, um realizador, um foto-jornalista alemão, e equipas de repórteres. Hoje, uma equipa foi entrevistar um homem que foi preso e sujeito a 8 dias de provação onde foi torturado pela polícia; uma equipa foi debater os desaparecimentos e o caso de 24 corpos presentes no anfiteatro da Cruz Vermelha.

As únicas pessoas autorizadas a entrar na morgue para ver os corpos são os da LMEDH e da Rede Oaxaquenha de Direitos Humanos. São eles que compilam as listas de desaparecidos e os testemunhos relacionados. São eles que trabalham directamente com o Comité de Membros da Família e Amigos de Desaparecidos, Detidos e Prisioneiros Políticos. Para além disso, têm uma longa relação (embora difícil) com a Cruz Vermelha, que lhes permite o acesso à morgue. O Comité formado há apenas algumas semanas, tendo um papel importante, não é o único grupo que lida com a questão das pessoas desaparecidas. Muitas pessoas que apoiam o Comité (por exemplo, os assistentes das mesas dos direitos humanos em Santo Domingo) são voluntárias.

A História que Não Acontecer

Na manhã de domingo, 2 de Novembro, dois fotógrafos curiosos a que apelidarei de L e H, estiveram na mesa dos Direitos Humanos na zona de Santo Domingo, onde os apoiantes da APPO estão actualmente acampados. Aí eram exibidos vídeos mostrando vários ataques governamentais e a resposta da população, combatendo as armas de grande calibre da polícia com pedras, fisgas, paus e cocktails Molotov de fabrico caseiro. Nos últimos vinte dias, uma calamidade de direitos humanos atingiu o movimento. Sob a capa da “manutenção da paz”, a PFP e/ou operacionais do PRI, do governador Ulises Ruiz, mataram, raptaram e fizeram desaparecer cento e trinta pessoas. Houve duas grandes batalhas. Uma foi a 29 de Outubro, a tentativa de retirar a as barricadas da APPO em frente aos edifícios governamentais. Vinte e dois foram presos, com dezasseis outros nos dois dias seguintes. Dúzias de pessoas foram feridas. A tentativa falhada da PFP de invadir a estação de rádio da Universidade Autónoma Benito Juarez de Oaxaca (UABJO) numa batalha de sete horas, teve lugar a 2 de Novembro. Nesta altura foram metidas pessoas em helicópteros e presumivelmente levadas para prisões. Perto de uma dúzia simplesmente desapareceram.

Entrevistas posteriores com prisioneiros libertados indicam que as pessoas eram colocadas à porta do helicóptero e ameaçadas de serem atiradas borda fora. Na prisão eram torturados, quer física quer psicologicamente.

Quando L e H se aproximaram de um trabalhador dos direitos humanos, C, para obter informação, foi-lhes dito que tinham sido descobertos corpos – num pequeno anfiteatro nos terrenos da Cruz Vermelha. Um relato dizia que os cadáveres estavam na morgue do hospital público há um número desconhecido de dias. Depois, o hospital resolveu que não os podia guardar durante mais tempo, e mudou-os para o edifício da Cruz Vermelha, localizado na Rua Bustamante, no centro da cidade de Oaxaca.

L e H pegaram nas suas máquinas e dirigiram-se para lá.

Quando chegaram ao edifício da Cruz Vermelha descobriram uma janela – alta demais para espreitar, mas H conseguiu colocar a sua câmara acima da sua cabeça e espreitou pelo visor. E que visão. Ali estavam os corpos, empilhados uns em cima dos outros em prateleiras. Os corpos estavam todos nus. Não foi possível contar precisamente quantos eram a partir do ponto em que espreitavam, mas aparentemente pelo menos um era de mulher, e havia perto de vinte e quatro no total.

Enquanto L e H captavam imagens, apareceu uma pessoa saída do edifício e pediu-lhes que saíssem imediatamente, o que fizeram, levando consigo provas preciosas. As fotos foram transferidas para um disco duro e gravados vários CDs, para segurança.

Nesse mesmo dia, já de noite, duas mulheres foram a Santo Domingo para informar os observadores dos direitos humanos da existência dos vídeos. Foi necessário agir rapidamente, porque não havia maneira de saber quanto tempo é que a Cruz Vermelha iria manter os corpos com o clima de Oaxaca. Mais importante, fotografias das caras dos falecidos, impressões digitais, e provas da forma como morreram, eram essenciais serem recolhidas, tanto para as famílias que pudessem reclamar os corpos, como para as provas da morte.

Quando as duas mulheres falaram com os funcionários dos direitos humanos foram encaminhadas para um advogado dos direitos humanos, que mostrou o seu espanto pela importância da prova filmada. A esposa do advogado, que também é professora, simplesmente sentou-se, com lágrimas nos olhos. Ela sabia que as famílias dos desaparecidos têm estado angustiadas nas últimas duas semanas, sem saber se os seus membros familiares desaparecidos estariam mortos ou presos.

Dois advogados dos direitos humanos, com uma carta na mão, dirigiram-se às instalações da Cruz Vermelha, na segunda-feira de tarde, acompanhados de uma equipa de sete pessoas. Eles exigiram entrar para observar os corpos, e disseram-lhes que podiam mas que a pessoa responsável pela permissão não estava presente. Eles esperaram quase quatro horas. Eventualmente as regras mudaram, e foi-lhes dito que apenas quatro pessoas podiam entrar. Os quatro seleccionados foram um médico dos EUA, um fotógrafo da Alemanha, um médico oaxaquenho a quem foi permitida a entrada como “ajudante”, sem se assumir a sua capacidade de médico, e um enfermeiro que também entrou como um “ajudante” anónimo.

Antes de entrarem no edifício foram feitas chamadas telefónicas para alertar amigos e parentes sobre o local onde estavam, e a pedir que viessem mais pessoas da APPO para as instalações da Cruz Vermelha, para os proteger quando saíssem. Para além disso, já tinham sido feitas várias cópias do CD onde se viam os corpos, e estavam em boas mãos. Por esta altura já era noite escura, e surpreendentemente para Oaxaca na época seca, chovia bem.

Tinha sido decidido que a primeira prioridade era identificar os corpos para ver se estavam entre os desaparecidos. Isso implicava tirar uma fotografia à cara, impressões digitais, fotos dos dentes, e registo de marcas identificativas tais como cicatrizes. Nesta altura a equipa já estava cansada.

Finalmente o director da Cruz Vermelha chegou para abrir as instalações, e com ele um outro trabalhador que deixou entrar todos os sete da equipa, depois da sua espera de quatro horas, enquanto o director estava noutro lugar.

Esta equipa, durante uma hora e meia de investigação, documentou tudo o que podia sobre os mortos. Mas eles concluíram que os corpos já tinham muito tempo para serem dos desaparecidos – provavelmente mortos desde Setembro, e sem sinais de violência. Independentemente disso, tiraram-se fotografias e completaram-se os procedimentos forenses.

Os Prisioneiros Políticos e os Desaparecidos

Esta investigação espontânea dos Direitos Humanos não trouxe nenhuns resultados para as famílias ansiosas dos desaparecidos. “No entanto, quem tiver um mínimo de consciência da história,” escreve o Comité dos Direitos Humanos, “não consegue ouvir o barulho de aviões espiões a qualquer hora do dia, ou passar no centro histórico desta cidade, ou nas instalações do Canal 9 ou o “Parque del Amor”, onde a polícia federal está estacionada, sem pensar em Mussolini, Hitler e Franco, e sentir a indignação que é provocada pela intenção de manter Ulises Ruiz no poder…usando para isso, todo o peso do aparelho de estado… Graças à resistência popular, 131 compañeros foram libertados depois de terem sido arbitrariamente detidos durante a ocupação da PFP. Apesar disso, até 11 de Novembro ainda estavam presos os seguintes:

  • Humberto Jiménez Ríos
  • Jaime Guerrero
  • Gerardo Martínez
  • Héctor Guzmán Acosta
  • Joaquín Benjamín López Castillo
  • Marcos García Martínez
  • Miguel Angel García
  • Valentín Pérez Hernández
  • Víctor Hugo Martínez Toledo

Também ainda desaparecidos:

  • Alejandro Merino García
  • Ángel Santos Callejas Rodríguez
  • Ángel Soto Gallegos
  • Armando o Arnaldo Rojas Galán
  • Camilo Domínguez de los Santos
  • Erick López Ortiz
  • Felipe Pérez Tomás
  • Félix Ricardo Méndez Venegas
  • Fernando Ruiz Santos
  • Isaías Pérez Mireles
  • Jesús Martínez Hernández
  • Máximo Reyes Pérez
  • Pedro “N”
  • Teodoro Tiño Verado
  • Ubaldo García Guzmán
  • Yeni Jarquín Aguilar
  • Diego Magdiel Rodríguez Hernández

12 outros foram levados da barricada no bairro de Felipe Carrillo Puerto na Avenida Ferrocarril.

Com a indignação de quem vê os seus céus, parques e praças convertidas em visíveis sinais de repressão, assinamos (membros do comité).”

Aqueles esforçados, que conseguiram apenas vinte e quatro corpos por identificar, continuam a localizar as famílias daqueles mortos. O Comité dos Direitos Humanos também continua a tentar localizar os desaparecidos. O governador continua no poder.

 

 

Texto da autoria de Nancy Davies, publicado a 17 de Novembro de 2006 em http://narconews.com/Issue43/article2353.html . Traduzido por Alexandre Leite
publicado por Alexandre Leite às 12:54

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