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Segunda-feira, 6 de Novembro de 2006

A APPO

         A brutal ocupação policial e militar de Oaxaca decretada por Vicente Fox e Felipe Calderón nesta sexta-feira dia 27, para reprimir a população de Oaxaca, que prosseguiu ontem [2 de Novembro], de maneira irracional, com a ofensiva militar para tomar o campus da Universidade Autónoma Benito Juárez de Oaxaca (UABJO), pontapeando o princípio constitucional da autonomia universitária, não resolverá nenhum dos problemas da entidade [Oaxaquenha], mas em vez disso irá agravar a crise nacional e tornar evidente mais uma vez, a inviabilidade histórica do governo PRI-PAN no nosso país.

1. A repressão do governo de Fox ao povo oaxaquenho, a apenas um mês de deixar o governo, acordada com o seu pretendido (de forma ilegal e ilegítima) sucessor, o usurpador Felipe Calderón, não conseguiu mais do que aumentar o número de mortos e feridos, e tornar mais grave o conflito, mostrando ao país o risco enorme que existe para todos os mexicanos, se este mesmo grupo de extremistas de direita continuar no poder, impondo as mesmas políticas.

2. A resistência popular da população oaxaquenha contra o governo de Fox, encabeçada pela APPO, já chama a atenção do mundo inteiro e continua a inviabilizar ao governo panista [do PAN] uma saída do conflito através do uso da força. Mas a obstrução de Fox e Calderón, que querem esconder que têm as mãos cheias de sangue, é maior, e com critérios fascizóides pretendem criminalizar os agredidos, e em particular a APPO e alguns dos seus dirigentes mais visíveis, como Flávio Sosa. Tentam deitar a culpa da situação para o governo estadual priísta [do PRI] escondendo a sua responsabilidade, e estão obstinados a negar a realidade fazendo de conta que não há violência e negando a sua responsabilidade nas mortes.

3. Os porta-vozes do governo federal e os escribas do regime iniciaram uma violenta campanha nos media, como noutras ocasiões, para tentar tergiversar a realidade e confundir os mexicanos. A sua obsessão é fingir que a origem do conflito radica no cancelamento que o governo de Ulises Ruiz tinha feito em 2006 dos apoios, de cerca de 400 milhões de pesos [cerca de 29 milhões de euros] às organizações sociais que fundaram a APPO, nas exigências salariais dos professores da secção 22 do SNTE [Sindicato Nacional de Trabalhadores da Educação] e na corrupção do governo local, ignorando o papel do governo de Fox no agravamento das condições de vida dos oaxaquenhos neste sexénio.

4. A actuação do governo de Fox no conflito sintetiza muitas das práticas perversas deste período de seis anos, entre outras a pretensão totalitária de impor uma versão da realidade, ainda que seja pela via da força. As violentas acções da PFP [Polícia Federal Preventiva] de ontem, com o recurso, poucas vezes visto, a tanques e helicópteros para tomar o campus da UABJO, tentavam deter a direcção do movimento e acabar com a APPO, mas também recuperar a Rádio Universidade para silenciar o povo oaxaquenho e tentar impor, como até aqui têm feito, uma única voz sobre o que acontece.

 5 . A batalha de Oaxaca entre o povo desarmado e o governo armado de Fox já é hoje uma questão nacional que preocupa todos os mexicanos, na sua maioria indignados com a barbárie de Fox, mas também uma questão internacional. Ainda mais agora, depois do assassinato, a sangue frio, do jornalista free lance norte-americano Bradley Roland Will, no município de Santa Lucía del Camino, que é um crime compartido por priístas e panistas, Ulises Ruiz e Vicente Fox, todos eles assassinos. Ou por acaso, Fox e Calderón não estão a preparar para o país, um cenário para o próximo governo no qual os grupos paramilitares sejam peças chave no pretendido “controlo da sociedade”? E não estão já esses grupos em Oaxaca?

6. A incapacidade do governo foxista em enfrentar o conflito de Oaxaca resulta da sua pretensão em fazer crer que já resolveu tudo a) sem estar disposto a ceder às exigências sociais do povo oaxaquenho expressadas pela APPO, e b) sem tocar minimamente nos acordos feitos entre ele Fox e Calderón com os dirigentes do PRI na aliança estratégica PRI-PAN para o próximo sexénio, com a intenção de conseguir a aprovação do “pacote estratégico” de mudanças neoliberais. Daí que se insista em não querer ver a dramática situação do povo oaxaquenho e que se oponha ao abandono da governação por parte de Ulises Ruiz, com o argumento de que a sua remoção abriria caminho para que uns meses mais tarde o PRI perdesse as seguintes eleições constitucionais.

7. Os comentadores do oficialismo, que pretendem que a subordinação dos quadros priístas ao PAN deve ser a troco de nada, pois que se quer é um governo mais abertamente de ultra direita, questionavam-se, sem esconder um profundo anti-priísmo de que se fazem gala (o que não consegue ocultar que há poucos anos eram filopriístas entusiastas), com pergunta mal formulada, “quantos mais mortos vale Ulises Ruiz?”, quando deveriam questionar-se: “quantos mais mortos valem os programas neoliberais sustentados na aliança PRI-PAN?”, ou “quantos mais mortos são necessários para segurar com alfinetes uma presidência espúria de Calderón?”

 8. A aparente mudança de estratégia do governo federal em Oaxaca, nos últimos dias, obedece, em todo o caso, à decisão tomada em Washington de prescindir, já não de forma gradual mas sim bruscamente, do PRI, num possível governo de facto calderonista, coma a ameaça de Fox e Salinas de acelerar o processo político tendente a um desaparecimento mais rápido do priísmo do cenário nacional. O comunicado do embaixador dos EUA, Tony Garza, depois do homicídio de Will, exigindo que se voltasse ao “império da lei e da ordem em Oaxaca”, que foi uma ordem para Fox e sem hesitar enviou a FPF, teria sido considerado inadmissível, noutros tempos, por constituir uma ingerência inadmissível, mas agora passou desapercebido, com a marca da cobardia dos actuais governantes panistas.

9. O conflito em Oaxaca deve enfrentar-se por via do diálogo e não pela força de corpos repressivos, como exigiram todos os sectores intelectuais a Fox e Calderón, o duo que pretende governar no “interregno”. Mas a inaptidão e falta de vontade democrática dos panistas, mostrada este ano com as selvagens repressões em Sicartsa e em Atenco, não faz vislumbrar que a razão da sociedade se possa impor facilmente aos interesses e à obnubilação ideológica da extrema direita no poder. Calderón evidenciou a sua miopia no comunicado que leu o seu porta-voz ao mesmo tempo que se combatia nos arredores da Cidade Universitária de Oaxaca, pois indicou que desejava que as acções policiais e militares culminassem “com êxito”, para alcançar aquilo a que chamou, com a ignorância que o caracteriza, “a normalidade da vida pública no estado de Oaxaca”.

10. A “normalidade” da vida pública em Oaxaca não irá ser conseguida com o triunfo da força, nem sequer com a saída de Ulises Ruiz, nem quando comecem a atender as exigências do povo de Oaxaca que é hoje legitimamente representado pela APPO, mas sim quando o povo possa ser dono do seu destino sem estar submetido às minorias que hoje mandam no país e que estão a encontrar nos panistas o seu instrumento preferido.

 

Texto da autoria de Luis Javier Garrido, publicado a 3 de Novembro de 2006 em http://www.jornada.unam.mx/2006/11/03/030a2pol.php e traduzido por Alexandre Leite.

publicado por Alexandre Leite às 16:25

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