Textos deste blog podem ser reproduzidos, desde que numa base não comercial ou educacional, tendo que ser informado, o autor, sobre qual o sítio onde essa publicação será feita e que os extractos sejam citados com a indicação do seu autor, e sem alteração do texto.

 

 A sua reprodução deve incluir o nome do autor e a fonte do artigo.

artigos recentes

Guerra e Paz - e Pobreza

Está naquela altura outra...

Morte de Jean Charles de ...

arquivos

Dezembro 2006

Novembro 2006

Outubro 2006

Setembro 2006

Agosto 2006

Julho 2006

Junho 2006

Maio 2006

Abril 2006

Março 2006

Fevereiro 2006

tags

todas as tags

subscrever feeds

blogs SAPO
Quinta-feira, 30 de Novembro de 2006

Guerra e Paz - e Pobreza

Pobreza Infantil e o Orçamento da "Defesa"

Foi o jornal Daily Telegraph, e não o “liberal” Independent ou o Guardian, que publicou acusações, na semana passada, de que Tony Blair está “a gastar perto de 7 mil milhões de libras [cerca de 10,37 mil milhões de euros] do dinheiro dos contribuintes numa insatisfatória guerra ao terrorismo”. (Toby Helm e Brendan Carlin, 'Anger at £7bn cost of war on terror,' Daily Telegraph, 20 de Novembro de 2006)

Sem surpresa, o Telegraph, relatava a partir do próprio esquema de propaganda do governo sobre a “guerra ao terrorismo”. Mas a cobertura noticiosa foi bem vinda, dado ter revelado o imenso custo financeiro público da invasão e ocupação do Iraque e do Afeganistão, que tem sido silenciado.

A notícia adiantava que Blair e o seu cúmplice “Tweedledum/Tweedledee”, Gordon Brown, tinham orgulhosamente “proclamado um financiamento especial” dos contribuintes britânicos para o Iraque, Afeganistão e Paquistão: totalizando 844 milhões de libras [1,25 mil milhões de euros]. Este anúncio de financiamento aconteceu apenas dois dias depois de Blair ter admitido, numa entrevista à Al-Jazeera, que a invasão do Iraque em 2003 tinha sido um “desastre”. Perturbados oficiais do governo têm desde essa entrevista tentado voltar atrás freneticamente, considerando que foi um “lapso” do Primeiro-Ministro.

No dia seguinte à notícia do Telegraph, a Press Association (PA)[agência de notícias britânica] informou que o “financiamento especial” fazia parte de um enorme aumento no limite de gastos do Ministério da Defesa: até 1,6 mil milhões de libras [perto de 2,38 mil milhões de euros] para o próximo ano financeiro. O Secretário de Estado da Defesa, Des Browne, deixou escapar sorrateiramente numa declaração escrita: o já enorme orçamento do Reino Unido para a “defesa” seria aumentado de 32 mil milhões de libras [47,37 mil milhões de euros] para 33,6 mil milhões de libras [49,74 mil milhões de euros, aproximadamente] em 2006-07. (Ben Padley, 'MoD seeks extra £1.4bn for Iraq and Afghanistan,' PA, 21 de Novembro de 2006)

Vários dias depois, as bases de dados dos meios de comunicação não mostravam nenhuma referência ou seguimento desta notícia da PA. A única excepção é um artigo de opinião de George Moninbot no Guardian de hoje [28 Novembro]. Ele assinala o grande aumento no orçamento militar:

“Ninguém reparou, Ou se o fizeram, ninguém se queixou. O governo nem se deu ao trabalho de emitir uma declaração à imprensa.” (Monbiot, 'Only paranoia can justify the world's second biggest military budget,' The Guardian, 28 de Novembro de 2006)

Para além disso, como explica o investigador Chris Langley, mesmo o citado limite de gastos do ano anterior de 32 mil milhões de libras [47,37 mil milhões de euros] é “enganoso” (Langley, comunicação por ele feita, 27 de Novembro de 2006). Os reais gastos, incluindo depreciação e custo de amortizações, foram de 39,8 mil milhões de libras, de acordo com os dados produzidos pela Agência de Estatística da Defesa. (http://www.dasa.mod.uk/natstats/ukds/2006/c1/table11.html)

 

Andando Acima dos Seus Limites – Pisando os Pobres

Em termos de dinheiro, como apontou Monibot, o orçamento militar da Reino Unido é o segundo mais alto do mundo (depois dos EUA). Mas na realidade, como muitas vezes nos recordam os políticos e os media, o nosso país gosta de “voar alto” nos assuntos globais. A “Defesa” é o quarto maior consumidor de dinheiro dos contribuintes do Reino Unido, depois da segurança social, saúde, e educação. (Chris Langley, 'Soldiers in the Laboratory,' report, 79pp., Scientists for Global Responsibility, Janeiro de 2005; www.sgr.org.uk/ArmsControl/MilitaryInfluence.html)

Os grandes meios de comunicação raramente questionam porque é que uma tão grande porção do orçamento vai para o sector militar. É difícil encontrar uma discussão sobre o impacto que estas finanças distorcidas podem ter no apoio estatal aos serviços públicos de saúde, educação e justiça social em geral. Em particular, não há nenhum debate que faça a ligação entre o grande orçamento militar do Reino Unido e as consequências para a erradicação da pobreza infantil – um escândalo que está a acontecer. Hilary Fisher, directora da associação End Child Poverty [Acabar com a Pobreza Infantil], assinala:

“Num país tão rico como a Grã-Bretanha é embaraçoso e chocante que ainda haja crianças a viver na pobreza.” (www.ecpc.org.uk/index.php?id=4)

A associação cita algumas tristes realidades da pobreza infantil no Reino Unido:

400 000 crianças têm uma dieta inadequada.

Perto de 52 000 famílias com crianças, ficaram sem casa em 2005.

Os custos crescentes do gás e da electricidade implicam que seja esperado que três milhões de famílias fiquem incapazes de aquecer as suas casas neste ano.

Crianças de famílias de trabalhadores indiferenciados têm 15 vezes maior probabilidade de morrer num incêndio doméstico.

Como diz um pai de três crianças no Norte de Londres:

“O pior de tudo é desprezo dos nossos caros concidadãos. Eu e muitas famílias vivemos num total desprezo.” ('Making UK poverty history,' Oxfam GB, BOND, End Child Poverty Coalition and the TUC, Outubro de 2005, report, 20pp., www.oxfmagb.org)

Em Outubro, a associação End Child Poverty [Acabar com a Pobreza Infantil] pediu a Gordon Brown para disponibilizar uns meros 4 mil milhões de libras [5,9 mil milhões de euros] para acabar com a pobreza infantil na Grã-Bretanha. Esta associação avisou: “É claro que as políticas e os recursos actuais não irão permitir ao governo atingir os seus objectivos.”

Mas é preciso espreitarmos num jornal de pouca tiragem, o Morning Star, para juntar um mais um e concluir o óbvio. Um recente editorial diz que, em Março de 1999, Tony Blair prometeu erradicar a pobreza infantil “numa geração”, apontando o objectivo para 2020. (Editorial, 'Sick set of priorities,' Morning Star, 20 de Novembro de 2006).

Em Março de 2006, o governo viu-se forçado a anunciar que tinha falhado – por uma margem significativa – em atingir o primeiro objectivo desse projecto. Tinha propagandeado que iam reduzir o número de crianças a viver na pobreza em 25% - aproximadamente um milhão – e falharam por 300 000.

O editor do Morning Star escreveu:

“Há 3,4 milhões de crianças britânicas ainda a viver na pobreza por causa desse falhanço, perto de um quarto da população com idade inferior a 16 anos, num país que se vangloria de ser a quinta maior economia do mundo.”

O editorial assinalava o escândalo do pedido de Blair, no mesmo mês em que foram publicadas estas estatísticas da pobreza, de uma renovação da “dissuasão” nuclear britânica. Ou, como diz o jornal de forma sagaz, uma substituição “do irrelevante, ineficaz, e ainda não usado, sistema de mísseis Trident, com um custo estimado em cerca de 25 mil milhões de libras [perto de 40 mil milhões de euros]”.

E mesmo o desconcertante número de 25 mil milhões é apenas uma estimativa por baixo, do custo final para o público. Uma reportagem do Guardian, baseada em cálculos dos Liberais Democratas, estima um número muito mais alto de 76 mil milhões de euros [112,4 mil milhões de euros]. Esta seria a arca do tesouro necessária para comprar mísseis, substituir quatro submarinos nucleares, e manter o sistema durante o seu prazo de validade de 30 anos. (John Vidal, Tania Branigan and James Randerson, 'Global warming: Could scrapping these... ...save this?', The Guardian, 4 de Novembro de 2006)

O Dr. Stuart Parkinson, Director Executivo dos Cientistas pela Responsabilidade Global, enviou-nos a sua resposta aos planos do governo de substituir o Trident:

“É extremamente perturbador que o governo pareça disposto a tomar a decisão de patrocinar um novo sistema de armas nucleares – cujo custo total pode ser tão alto como 76 mil milhões de euros [112,4 mil milhões de euros] – enquanto a pobreza infantil ainda existe no Reino Unido.” (por correio electrónico, 28 de Novembro de 2006)

 

A Caravana Polly Cameroniana

Infelizmente, a mesma rectidão no desafio às prioridades estabelecidas esteve ausente no artigo sobre a pobreza da colunista Polly Toynbee, do jornal Guardian, na semana passada. (Toynbee, 'If Cameron can climb on my caravan, anything is possible,' The Guardian, 22 de Novembro de 2006). Durante muitos anos, Tonybee construiu uma reputação, no público em geral, de social democrata campeão da causa da redução da pobreza.

“Para os Conservadores admitirem que ignorar alguma pobreza foi um terrível erro, represente um grande avanço,” declarou no seu artículo.

E – outra pérola de Toynbee – o líder Conservador, David Cameron, “facilita aos Trabalhistas serem arrojados sobre a pobreza, atingir esse objectivo de abolir a pobreza infantil em 2020”.

Esta foi uma análise trivial. Toynbee deu, deste modo, crédito ao líder conservador David Cameron pela sua tentativa falhada de abafar o assunto da pobreza. Não houve nenhuma menção às políticas corporativas apoiadas por este partido, e seguidas pelo estado, qualquer que seja o partido no poder, em prejuízo da justiça social – incluindo quaisquer esperanças realistas de abolir a pobreza infantil. Como escreveu o historiador radical Mark Curtis:

“Almejar a erradicação da pobreza sem mexer nos grandes negócios é quase como abordar a malária sem falar dos mosquitos.” (Curtis, 'Web of Deceit,' Vintage, 2003, p.217)

Escrevemos o seguinte a Toynbee:

“Não há nenhuma menção no seu artigo às distorcidas prioridades dos gastos governamentais, como o seu inchado orçamento da “defesa”; e, especificamente, se o estado deve pagar milhares de milhões pela invasão-ocupação do Iraque.

Ou, olhando para a coluna de Richard Norton-Taylor's que está imediatamente à direita da sua ['Beware Trident-Lite'], se pagar uma grande soma pela actualização da nossa “dissuasão” nuclear é ou não um uso responsável dos dinheiros públicos.

Porque é que não considerou relevantes estes aspectos no seu artigo sobre a pobreza actual?” (Por correio electrónico, 22 de Novembro de 2006)

Em resposta, recebemos uma interessante variação da velha história da “falta de espaço”:

“Bem, não podemos meter tudo numa coluna! Ou teríamos sempre a mesma…” (Por correio electrónico, 23 de Novembro de 2006)

Uma resposta como esta faria sentido se Toynbee tivesse examinado repetidamente a ligação entre os exorbitante gastos militares – a substituição do Trident, em particular – e a falta de progressos na erradicação da pobreza infantil. Mas, nos últimos dose meses, ela apenas aflorou duas vezes uma possível ligação. É uma performance baixinha para alguém que tem os louros, nos grandes meios de comunicação, de estar empenhada na exposição da pobreza e da justiça social. E, desta forma, as suas respostas entram no campo das evasivas liberais.

Também escrevemos a Andrew Grice, editor de política do jornal Independent, por causa da sua coluna sobre o mesmo tópico. ('The week in politics: Beckham, Toynbee and the Tory view of poverty,' The Independent, 24 de Novembro de 2006):

“Você refere ‘as causas principais da pobreza profunda, tais como os problemas com o álcool e drogas, e uma pobre educação e condições da habitação’. Porque é que não há nenhuma menção, no seu artigo, às prioridades distorcidas do estado no gasto do dinheiro dos contribuintes; em particular, as grandes somas gastas na ‘defesa’?

Como deve saber, Tony Blair, na semana passada, enfrentou acusações de que ‘estava a gastar perto de 7 mil milhões de libras [10,37 mil milhões de euros] dos contribuintes numa insatisfatória guerra ao terrorismo.’

Para além disso, o Secretário de Estado da Defesa, Des Browne, acabou de anunciar um aumento no orçamento militar anual do Reino Unido, passando de 32 mil milhões de libras [47,37 mil milhões de euros] para 33,6 mil milhões de libras [49,74 mil milhões de euros] para 2006-07.

E ainda há a proposta de substituição do Tridente, a um custo de 25 mil milhões de libras [perto de 40 mil milhões de euros] ou mais. De facto, cálculos feitos para a compra de novos mísseis, substituição de quatro submarinos nucleares, e manutenção do sistema durante 30 anos, sugerem uma soma total a rondar os 76 mil milhões de libras [112,4 mil milhões de euros].

Porque é que considerou irrelevante, tudo isto, na sua coluna de opinião desta semana?” (Por correio electrónico, 24 de Novembro de 2006).

Na altura em que estamos a escrever ainda não obtivemos resposta.

 

Comentário Final

Os repórteres e comentadores corporativos aperfeiçoaram a arte de não fazer ligações dolorosas; isto é, dolorosas para os interesses poderosos. Assim, a vergonhosa pobreza infantil e o enorme orçamento militar estão em compartimentos diferentes do pensamento geral. É uma tristeza isto acontecer a alguém que devia olhar para um, e depois para o outro, e pensar em voz alta se a política estatal é, de facto, louca.

É como se o estado estivesse focado em *excluir* a racionalidade; de facto, excluir a compaixão.

Chogyam Trungpa disse uma vez que “a compaixão é a máxima atitude da riqueza: um atitude anti-pobreza, um guerra à ganância. Contém todos os tipos de qualidades heróicas expansivas, sumarentas, positivas, visionárias”. (Trungpa, 'Cutting through spiritual materialism', Shambhala, 2002, p. 99)

 

 Na raiz, temos de questionar se o estado pode, de forma significativa, agir com racionalidade e compaixão. E, se não, o que vamos fazer em relação a isso.

 

Texto publicado a 28 de Novembro de 2006, em http://www.medialens.org/alerts/index.php e traduzido por Alexandre Leite.

 

publicado por Alexandre Leite às 18:03

link do post | comentar | favorito
Quinta-feira, 17 de Agosto de 2006

Está naquela altura outra vez – de mais um ‘plano terrorista’

“Por vezes teremos de alterar algumas das nossas liberdades, a curto prazo, para poder prevenir o seu uso errado por aqueles que se opõem aos nossos valores fundamentais e destruiriam todas as nossas liberdades do mundo moderno.” – Ministro do Interior, John Reid

É realmente espantoso que ninguém veja o paradoxo de Reid a pedir a abolição do que resta dos nossos direitos civis, para os preservar, mas também não há nenhuma lógica na “guerra ao terrorismo”, é ela própria um contradição.

Quanto à noção de Reid dos “valores fundamentais”, presumimos que eles incluem a indiscriminada destruição de sociedade e da sua população e ficar a ver enquanto os seus aliados fazem o mesmo. Não apenas ficar a ver mas exortá-los a isso, pelo amor de Deus!

E também espantoso é o pedido de Reid para destruir os nossos direitos, ao mesmo tempo que acusa aqueles que, alega ele, os destruiriam.

Será mesmo demasiado impossível, admitir que pessoas que conseguem falar com tanta hipocrisia e que têm as mãos banhadas em sangue de dezenas de milhares de inocentes, pensariam duas vezes em engendrar um plano, se pensassem que isso favorecia os seus objectivos?

Sim, eu sei, eu não tenho provas para me apoiar, para além dos recentes registos históricos (e não tão recentes) e os lapsos e contradições da máquina de propaganda do estado, à medida que nos prepara para o Der Tag[N.T.1].

O problema para nós é que a palavra conspiração tem sido tão maltratada que agora apenas se usa para tolos e maluquinhos, mas o facto é que, o próprio estado é uma conspiração de uma classe sobre a outra. Com tanta coisa em jogo, não há nada, literalmente, que eles não façam para se manterem agarrados ao poder, incluindo a fabricação de provas de forma a iniciar guerras ilegais. Não me digam que a invasão e destruição do Iraque não foi o resultado de uma conspiração internacional!

Foram fabricadas provas em grande escala, foram ditas mentiras a todo e qualquer um e as mentiras foram divulgadas por uns media corporativos e estatais cúmplices. Não é preciso haver um grupo de pessoas, algures num quarto escuro, a planear esquemas. Temos a política governamental e tem lugar nos mais altos níveis do governo. É este o papel da classe política, preservar o domínio do capital, a qualquer custo.

E sim, eu sei que é difícil aceitar o facto de que o estado vá tão longe para “ajustar” as pessoas, mas os registos mostram que isso aconteceu vezes sem conta e tenham em atenção que o estado tem efectivamente recursos ilimitados e exércitos de servos leais, pagos e treinados para obedecer a ordens. Esta é a nossa realidade, quer as pessoas estejam preparadas para a aceitar, quer não.

Aparentemente, a “guerra ao terrorismo” pode durar meio século, dizem-nos, mas independentemente de quanto tempo durar esta desonesta guerra, implicará viver sob a bota do estado. Pode não usar botas militares, mas será cada vez mais impiedoso na anulação de qualquer protesto. Com o avançar do tempo, o espaço para divergências irá diminuir, diminuir e diminuir, até não sobrar nenhum.

Li algures que há uma relação estatística directa entre “alertas de terrorismo” e acontecimentos injuriosos para o estado. Deste modo, é seguro aceitar que o estado está envolvido até ao seu pescoço sujo, nesta última tentativa de assustar toda a gente.

Tentem-se recordar de anteriores “alertas de terrorismo” que deram em nada, nem mesmo uma tentativa ou uma intenção de fazer explodir alguma coisa ou alguém.

O pior que as autoridades conseguiram inventar foram “crimes de pensamento”, isto é, uns rapazes reuniram-se a dizer umas asneiras, pelo menos de acordo com as autoridades. Mas pensem nisto, temos governos que nos mentem sobre tudo o que fazem, incluindo a razão de destruírem países inteiros e exterminar incontáveis centenas de pessoas, quer directa quer indirectamente, como Israel no Líbano, por isso, porque é que é tão inacreditável que essas mesmas pessoas criem ameaças fictícias?

O momento do ultimo alerta é absolutamente crucial, aconteceu precisamente quando os estados Ocidentais estavam sobre crescente pressão para forçar Israel a parar a sua criminosa guerra, de exterminação e a situação no Iraque vai de mal a ao desastre completo, para os ocupantes.

Os planos que nunca chegaram a ser

Houve um plano com o veneno “rícino”, só que não havia rícino nenhum. Esqueçam o plano, mas foi esta a história espalhada pelos grandes meios de comunicação. Vejam as seguintes notícias sobre a verdadeira história do “plano do rícino”

‘O Caso de Kamel Bourgass – O som de uma mão a bater palmas ou uma conspiração’, www.williambowles.info/ini/ini-0327.html e,

‘Rícino: O plano que nunca chegou a ser, por Severin Carrell e Raymond Whitacker’, www.williambowles.info/spysrus/ricin_plot.html e,

‘Falso Terror – Anel de Rícino que nunca existiu’ por Duncan Campbell’, www.williambowles.info/spysrus/ricin_plot2.html

Depois, houve um “ataque com gás” no metro de Londres, outra história que não deu em nada.

Houve ainda um anúncio do exército, em Heathrow, de um informação sobre “terroristas” que estavam prestes a derrubar um avião com um míssil terra-ar. Como com todos os outros “alertas terroristas”, era só conversa.

A resposta do estado foi e é, “bem, nós conseguimos prevenir o ataque”, mas peçam-lhes provas e vão ter a resposta do costume, “desculpe, não podemos mostrar, é segredo de estado”.

Parece haver uma correlação directa entre a escala dos desastres do Império e a natureza do “alerta terrorista”, com cada desastre acompanhado por um alerta ainda maior.

Até agora, foram detidas 24 pessoas (e uma libertada, sem acusação) e 19 acusadas, com base em diversas legislações “anti-terrorismo”.

Como de costume, há alguns aspectos perturbantes desta última histeria, que contradizem as medidas draconianas que o governo tomou.

Em primeiro lugar, de acordo com o governo, este foi o plano mais perigoso desde o 11 de Setembro, com10 voos transatlânticos, alegadamente destinados a ser destruídos, e Blair informou Bush neste fim-de-semana que passou, no entanto o “alerta crítico” só foi anunciado DEPOIS das detenções e não impediu Blair de voar no SEU voo transatlântico para as Caraíbas, de férias.

E, de acordo com as autoridades Paquistanesas a 12/8/2006, um Britânico que foi detido nesta semana, “pôs a boca no trombone” sobre o alegado plano, precipitando o alerta. No entanto, a polícia britânica afirma ter o “grupo” sob vigilância há alguns meses.

Outro relato fala sobre um agente que estava infiltrado no grupo. Qual era o papel dessa pessoa? Era um agente provocador?

E se era uma tão grande ameaça à vida e à integridade física, porque é que as autoridades esperaram cinco dias até fazerem detenções?

Tal como nos anteriores “alertas terroristas”, todo o tipo de histórias são passados à imprensa, a conta gotas, especialmente pensados para semear a confusão e o medo. Tentar perceber os acontecimentos é difícil, mesmo com os famosos poderes (embora ficcionais) do Sherlock Holmes, mas é esse o objectivo dessa desinformação.

Se aparecerem falhas na história, como já apareceram, sem um explicação definitiva, é fácil para o estado, negar que tem alguma coisa a ver com a pletora de migalhas libertadas para a imprensa.

Na semana passada, o Min. do Interior, Reid, fez um discurso em Londres, no qual anunciou que enfrentamos “provavelmente o maior período continuado de ameaça severa, desde o fim da segunda guerra mundial” e acusou os oponentes da legislação anti-democrática governamental de estarem a minar a “guerra ao terrorismo”. O momento é conveniente, sem dúvida, levando alguns a suspeitar que Reid sabia muito bem dos acontecimentos que se passaram nesta semana.

E como de costume, as informações governamentais sobre os alegados terroristas, são tão vagas e dúbias que qualquer um que queira tentar perceber exactamente o que é que eles queriam fazer, não consegue.

Devo explicar que fazer explodir pessoas no metro e em aviões, não é a minha ideia de como fazer mudar as coisas, no máximo é um engano e no mínimo é patológica e aberta a manipulações, como temos visto vezes sem conta, por agentes do estado.

É interessante verificar que as últimas investigações revelam que a grande maioria dos “bombistas suicidas” não o fazem por razões de ordem religiosa. Pelo menos metade deles identifica-se como “de esquerda” (o que quer que isso significa hoje em dia).

“O facto principal é que, esmagadoramente, os ataques terroristas suicidas não são motivados pela religião mas mais por um objectivo estratégico claro: forçar as modernas democracias e retirarem forças militares de territórios que os terroristas vêem como a sua terra. Do Líbano ao Sri Lanka, à Tchetchénia, a Caxemira, à Cisjordânia, todos as grandes campanhas de terrorismo suicida – mais de 95% dos incidentes – tiveram como objectivo central, forçar a retirada de um estado democrático.” – Professor Robert Pape, autor de Morrendo para Vencer: A Lógica do Terrorismo Suicida.

Por isso, quando Bush lhes chama “Islamo-Fascistas”, percebeu tudo errado, mas no fundo é esse o objectivo de levantar o assunto dos Muçulmanos, porque evita lidar com as causas subjacentes e ao mesmo tempo esconde as questões essenciais.

Como assinala Pape (e ele não é de esquerda), a esmagadora maioria dos chamados bombistas suicidas são motivados por razões políticas e não religiosas. Deste modo, a infinita torrente de propaganda que tenta deitar a culpa em fanáticos religiosos, apenas ajuda a diabolizar aqueles que estão sentados em cima de recursos que o Ocidente necessita tão desesperadamente, bem como secções da nossa sociedade que são, em virtude da sua pele escura, e presumimos Muçulmanos, um bode expiatório mesmo à mão.

Historicamente, este tipo de campanhas de propaganda explora o racismo e xenofobia latentes, que são endémicos no imperialismo. De facto, pode-se argumentar que o racismo e o imperialismo permanecem inseparáveis, como tem sido durante séculos, para justificação ideológica dos crimes dos exploradores.

Quando pessoas e mesmo comissões de inquérito, falam de “racismo institucional”, o que realmente querem dizer é que todo o aparelho de estado é cúmplice na promoção de uma visão do mundo que considera a “civilização” Ocidental e os seus chamados valores, superiores de forma inata, simplesmente em virtude da “raça”. E, como revela a admissão ocasional, por um servo do estado, sem destruir o aparelho de estado, é impossível remover.

Estas formas de ver o mundo estão integradas em cada aspecto da sociedade, desde a educação ao sistema de justiça criminal. Até o nosso sistema público de saúde não escapa ao insidioso veneno da ideologia do racismo. As instituições psiquiátricas, tal como as prisões, estão a rebentar com um número desproporcionado de pessoas pobres e negras.

Num tal ambiente, é de admirar que os “alertas terroristas” sejam tão eficazes quando se focam nessas secções da nossa sociedade, já alienadas e oprimidas?

Notas

Quer acredite ou não, que o actual “alerta” é a sério, as evidências do envolvimento dos governos do Reino Unido e dos Estados Unidos em esquemas e provocações, são enormes.

‘Última Ameaça Terrorista – Mais Presciência Governamental’, Por Joel Skousen, World Affairs Brief’, 12/8/2006 http://rense.com/general73/latest.htm

‘O Plano Terrorista Britânico: Nível Dois da Surpresa de Outubro’ Hassan El-Najjar, 11/8/2006
tinyurl.com/lgwwu

O Segundo 11 de Setembro “do Pentágono”
“Outro ataque [11 de Setembro] poderia criar uma justificação e uma oportunidade para retaliar contra alguns alvos conhecidos”, por Michel Chossudovsky, 10/82006
www.globalresearch.ca/index.php?context=
viewArticle&code=CHO20060810&articleId=2942

Sete Patetas num Armazém
www.infowars.com/articles/terror/
seven_morons_in_a_warehouse.htm

Sears Tower: Governo dos EUA Cria Outra Célula da Al-Qaeda
prisonplanet.com/articles/june2006/230606searstower.htm

Canário Cozido Regorgita Plano Terrorista Reciclado
prisonplanet.com/articles/june2006/220606cookedterror.htm

‘Plano Terrorista” Canadiano Começa a Clarificar-se
prisonplanet.com/articles/june2006/060606terrorplot.htm

Raide Terrorista Inflacionado Prova Ser Um Tigre de Papel
prisonplanet.com/articles/june2006/050606terrorraid.htm

Terroristas de Toledo e Cerco Governamental
prisonplanet.com/articles/februa
ry2006/240206toledoterrorists.htm

Vinte e Três Especialistas da “Inteligência” Dizem Que o Plano Terrorista de LA era Falso
prisonplanet.com/articles/february2006/100206plotasham.htm

Bush Joga Carta Terrorista Com Um Falso Plano Terrorista em LA
prisonplanet.com/articles/february2006/100206terrorcard.htm

“Plano” do Metro de Nova Iorque: Mais Um Falso Alerta Terrorista
www.prisonplanet.com/articles/
october2005/101005faketerror.htm

VER TAMBÉM: ARQUIVO DE FALSOS ALERTAS DE TERRORISMO
www.prisonplanet.com/archive_war_on_terror.html#alerts

 

 

 

[N.T.1]. – “O Grande Dia”, em alemão.

 

 

Texto escrito originalmente por William Bowles e traduzido por Alexandre Leite. O original foi publicado em http://williambowles.info/ini/2006/0806/ini-0445.html a 12/8/2006.

publicado por Alexandre Leite às 23:09

link do post | comentar | favorito
Sexta-feira, 21 de Julho de 2006

Morte de Jean Charles de Menezes

“Não há nada de patriótico em pretender amar o nosso país mas desprezar o nosso governo.” Presidente Bill Clinton

 

À medida que mais informação vem à tona, sobre as circunstâncias do assassinato do infeliz Brasileiro, fica bastante claro que desde o momento em que ele saiu do seu apartamento em Tulse Hill, para ir para o seu trabalho como electricista, era um homem morto.

Muito provavelmente, o verdadeiro cenário foi o seguinte:

O bloco de apartamentos está sob vigilância de uma equipa da polícia, com base, sem dúvida, em “informações recebidas”.

Menezes deixa o apartamento, vai até à paragem e apanha o autocarro para a estação de metro de Stockwell. É seguido pela equipa de vigilância da polícia, quando entra na estação e, ao contrário do que a polícia diz, ele não salta o torniquete mas usa o seu bilhete para passar no torniquete.

Neste ponto, uma equipa à paisana toma conta e segue Menezes até ao interior da estação. Menezes vai até à plataforma da Northern Line, onde está uma composição com as portas abertas.

Menezes corre para tentar ainda apanhar esse metro. A polícia segue-o de perto. Menezes tropeça ao entrar na carruagem. A polícia entra também, salta-lhe em cima e desfere-lhe o golpe final, sete tiros na cabeça e um no ombro.

Indubitavelmente, a isto seguiu-se uma comunicação triunfal para o seu superior, “Apanhámo-lo chefe!”. Mais um “terrorista” morto.

A partir daqui, foi sempre a piorar, para os polícias. Na identificação, aperceberam-se que o seu “terrorista islâmico” é de facto, um Brasileiro. Uuups! Grande asneirada. O que fazer?

Entretanto, o comissário da polícia de Londres, Blair “da Yard” [da Scotland Yard – polícia de investigação britâncica], na sua pressa em reivindicar um sucesso (mais um passo no seu caminho para atingir uma distinção por “serviços prestados à pátria”, sem dúvida), já anunciou que Menezes está definitivamente “ligado directamente à rede terrorista”.

O problema agora é, como encobrir a asneira? Deste ponto em diante, essa tarefa foi indo por água abaixo.

De forma a justificar o assassinato de Menezes, é necessário “massajar” os factos de forma a conseguir encaixá-los no crime.

Passo 1: Dizer que ele vestia um casaco comprido, num dia quente de verão, quando, de facto, ele levava vestido um casaco de ganga leve. Muito suspeito, pois debaixo do casaco comprido podia estar escondida uma bomba. Para além disso, insinuam que o seu comportamento era “suspeito”

 

Passo 2: Em vez de ter passado normalmente pelo torniquete da estação, a polícia alega que ele saltou por cima do torniquete, para entrar na estação. Claro que agora, no cenário deixado pela “Operação Kratos”, a polícia tem “licença para matar”.

 

Passo 3: Neste momento, a “brigada especial” toma conta, e segue-o até à plataforma da estação. A partir deste ponto e até ao momento em que entra na carruagem, os acontecimentos são de certa forma, conjecturados. Muito provavelmente, uma vez na plataforma, Menezes foi avisado para parar (versão da polícia) e foi perseguido pela brigada, com armas em riste. Compreensivelmente, ao ver-se perseguido por três homens armados, não identificados, Menezes foge. Ou então, ao ver a carruagem na estação, ele corre para tentar entrar antes das portas fecharem, tropeça na entrada e é seguido pela tal brigada.

Passo 4: De qualquer das formas ele é perseguido por três homens que, de acordo com Whitby, uma das testemunhas, “lhe saltaram em cima” e dispararam várias balas, à queima-roupa (Whitby disse cinco, outra testemunha disse três, mas de facto, de acordo com a polícia, foram oito). De uma ou de outra forma, Menezes morreu.

Sem dúvida que a primeira acção da brigada especial terá sido, comunicar aos seus superiores que o suspeito tinha sido “neutralizado”. Nesta altura, devido à sua pele escura, ainda se assumia que Menezes fosse um “Asiático”. Fosse ele, de facto, um Asiático e sem dúvida que a história elaborada pelas autoridades seria algo diferente. Dada a atmosfera de histeria criada à volta dos acontecimentos de 7 de Julho e do dia anterior à morte de Menezes, o desafortunado falecimento do “homem Asiático”, seria “lamentável” mas compreensível. E, no fundo, quem se interessa que um estranho Asiático bata as botas? A compreensão iria para a polícia que, de qualquer forma, está “sob grande tensão”.

Entretanto, o Blair “da Yard” aparece a anunciar ao mundo que a vítima estava “de certeza ligada directamente à rede terrorista”. Este foi o primeiro de vários erros cometidos pelo estado, que, sem dúvida, forçou a invenção da história que foi depois libertada para a imprensa.

Foi chegada a altura de uma “engenharia reversa”, daí o “casaco comprido”, o “saltar o torniquete”, o seu “comportamento suspeito”, levando à necessidade do uso de força letal para “proteger a vida de pessoas inocentes”.

Finalmente, foi revelada a política de “atirar a matar” da Operação Kratos, de forma a retirar a culpa à asneirada da polícia. Blair e companhia ficam assim, em teoria, inatacáveis, protegidos pela capa da “política”. A campanha de propaganda aparece na altura certa.

Aparece o primeiro de muitos artigos de desinformação, nomeadamente o de que ele poderia ser um “estrangeiro ilegal”, justificando assim a sua fuga da policia, numa tentativa de justificar o assassinato. O Ministério do Interior [Home Office] publicou inicialmente um rigoroso desmentido e condenou, de forma clara, a especulação da imprensa sobre o estatuto de Menezes, mas isto claro, em linha com a táctica de quanto mais “palha” melhor. A ideia é semeada nas mentes do público independentemente dos desmentidos oficiais.

O estatuto de Menezes passa por uma série de revisões durante essa semana, com mais uma história insinuando que o carimbo do seu passaporte é “falso”. O Ministério do Interior recusa comentar. Apesar de tudo, na globalidade, a impressão passada para o público é que alguma coisa não batia certo, em relação a Menezes. Tudo a alimentar a máquina da propaganda. Os principais meios de comunicação apressam-se a defender os actos da polícia, num total alinhamento com a política oficial, num assassinato consentido pelo estado.

As testemunhas do assassinato desaparecem completamente. Não há mais entrevistas da nossa intrépida imprensa. Uma breve nota de imprensa é emitida pelo sindicato RMT, dizendo que o condutor do metro, que compreensivelmente fugiu, como toda a gente, quando foram disparados os tiros, foi perseguido pela polícia e teve uma arma apontada à cabeça, antes de ser libertado (fico a pensar, seria ele “escuro”?). Telefonei para o RMT e disseram-me que o condutor era, na realidade, membro do ASLEF, o outro sindicato dos trabalhadores dos transportes. A única reportagem que encontrei sobre isto foi no jornal Morning Star. Tentei falar com o gabinete de imprensa do ASLEF, mas sem sucesso. Pelo que sei, o ASLEF não comentou o acontecimento e não há menção nenhuma ao caso, na página da internet do ASLEF. Também, é apenas uma história paralela à “guerra ao terrorismo”.

Com o passar dos dias, emerge finalmente que a história divulgada pela polícia sobre os acontecimentos que levaram à morte de Menezes, é de alguma forma irrelevante, mas agora a propaganda em defesa do governo já vai a velocidade de cruzeiro e os verdadeiros factos desaparecem sob um manto de justificações divulgadas pela polícia e pelo governo. Principalmente a política de “atirar a matar”. É necessário disparar primeiro e talvez fazer perguntas depois, mas em qualquer caso, o estado não tem outra escolha para além de instituir tal política, dada a natureza da ameaça, bombistas suicidas, que têm de ser abatidos antes de fazerem explodir as suas bombas.

No entanto, gostaria de fazer alguns reparos à táctica do governo, que mostram algumas falhas graves nos cálculos governamentais, que se cruzam com o desastroso falecimento de Menezes.

Em primeiro lugar, parece claro que à medida que a situação vai de mal a pior no Iraque, se revelou o desastre estratégico que é a “guerra ao terrorismo”, da qual a aliança EUA/RU provavelmente não recuperará. Todas as tentativas de arrastar os outros estados capitalistas para o mesmo barco, falharam redondamente. Por isso, a cada dia que passa, a “coligação mortífera” vê-se cada vez mais isolada, e o mais perigoso, cada vez mais desesperada. Aqueles que desdenham a ideia que os acontecimentos de 7/7 foram realmente instigados pelos serviços de segurança do “Eixo do Terror”, os EUA, o RU e Israel, precisam de ter esta realidade em atenção. Esqueçam as fotografias alegadamente forjadas, imagens retocadas e coisas assim.

E se forem necessárias provas disto, apenas precisamos de reparar na mudança de rumo anunciada esta semana: adeus “guerra ao terrorismo”, olá “guerra ao extremismo violento”. Extremismo, é claramente uma definição mais vaga e abrangente do que “terrorismo”. Com certeza, esta mudança na táctica é pensada para nos prepara para o próximo nível na construção de um estado policial, simplesmente porque é inevitável que a resistência às políticas de Blair irão aumentar, com a soma das implicações da invasão falhada.

Nesta semana, o anúncio de novos e ainda mais repressivos poderes estatais, é uma clara indicação do aumento do desespero da elite dominante, justificada pelos “convenientes” acontecimentos de 7 de Julho (e daquilo que eu ainda considero como o trapalhão acidente, tentativas de imitação obviamente amadoras a 21 de Julho)

A polícia disse a Tony Blair, na última noite, que necessita de novos e arrojados poderes para combater a ameaça terrorista, incluindo o direito a deter um suspeito até três meses, sem acusação, em vez dos actuais 14 dias.

Agentes oficiais também querem poderes para atacar e fechar páginas na internet, uma nova ofensa criminal para o uso da internet na preparação de actos de terrorismo e “suprimir o uso inapropriado da internet”.

Também querem que passe a ser ofensa criminal, a recusa, pelos suspeitos, em dar à polícia, livre acesso aos seus ficheiros do computador ao recusarem-se a dar as palavras passe.

Mas que diabo é “o uso inapropriado da internet”? Assim que o estado embarca neste caminho de repressão, para fazer cumprir a sua política contra a vontade da população, está numa rua de sentido único em direcção ao fascismo, pois não há forma de recuar ou de dar meia volta. O único sentido é ainda mais repressão ou então o derrube daquilo que está efectivamente a tornar-se numa ditadura.

O terreno, representado por um modelo social democrata, de governação através de algum tipo de consentimento e compromisso, já não dá, abandonado que foi, como muito do resto da bagagem inconveniente da social democracia, tal como responder perante o povo.

E à medida que a situação fica mais polarizada pelas acções do governo, é inevitável que o “terrorismo” seja transformado em “extremismo”, aumentando assim a rede que cerca uma percentagem crescente da sociedade que se opõe ao “ordinário” fascismo de Blair. Quando formos a ver, as fontes independentes de media, como esta, serão chamadas de “extremistas”, simplesmente porque nos opomos às políticas do governo.

Na frente de todo esta campanha vem a demonização do Islão por parte do estado, que se tornou ainda mais estridente e extrema.

É por isso que eu nem concordo… que afinal, eles só nos queiram por para fora dos países Árabes, não é isso. É muito mais fundamental que isso. Eles querem uma guerra entre o Islão e outras religiões, é isso que querem. É por isso que se referem sempre a isto como, a cruzada da aliança Sionista e todo este tipo de disparates. É isso que eles querem. Querem uma situação em que nós acabemos divididos. – Tony Blair

Sendo nós, claro, os brancos, aliança Anglo-Saxónica dos EUA e do Reino Unido. Interessante, a única vez que o termo “cruzada da aliança Sionista” foi usado, foi alegadamente por Osama bin Laden em Outubro de 2004 numa gravação que foi classificada pela CIA de “confiança moderada” em ser de bin Laden. Por isso, nem temos mesmo a certeza se Osama usou realmente a frase. Para além disso, o discurso foi divulgado num desses sites fantasma, muito usados pela alegada rede terrorista da Al-Qaeda.

E nós não vamos lidar com este problema, com as raízes tão profundas como são, até confrontarmos estas pessoas, a todos os níveis. E não apenas os seus métodos, mas as suas ideias. [ênfase minha – W.Bowles] – Tony Blair

Atentem ao uso da expressão “Não apenas os seus métodos, mas as suas ideias” proclamando a natureza da relação entre os EUA e o RU, com os EUA a alterarem também a sua campanha de propaganda para a harmonizarem com a realidade da opção militar falhada. Ao não conseguir vencer a “guerra ao terrorismo”, só resta uma opção, entrar em guerra com a sua própria população, à medida que aumenta a oposição às políticas falhadas.

 

O discurso de onde foram retirados estes excertos, revela um Blair ainda mais desequilibrado, com secções do discurso a assemelharem-se a “uma corrente de raiva consciente”, repleta de todas aquelas frases sonantes, agora já usuais. Mas o mais perturbante é a forma como a realidade é distorcida, como neste exemplo:

Israel não devia existir, sim, a política externa Americana é má, sim, o que aconteceu no Iraque ou Afeganistão foi pensado para exterminar o Islão, se as pessoas aceitarem estas ideias falta só um pequeno passo para o extremismo do terrorismo.

Por outras palavras, se foram contra a política dos EUA/RU no Iraque, Afeganistão ou contra o seu apoio às políticas do governo de Israel, então estamos a curta distância do “extremismo do terrorismo”. E há ums sugestão de que a invasão foi pensada para “exterminar o Islão”, a primeira vez que Blair o diz.

Extremismo e terrorismo são agora termos equivalentes. É óbvio que aqueles de nós que se opõem às políticas governamentais estão a ser preparados para a próxima fase, a inexorável lógica da derrapagem para o fascismo.

 

Texto da autoria William Bowles, publicado a 30 de Julho de 2005 em http://williambowles.info/ini/ini-0354.html e traduzido por Alexandre Leite.

publicado por Alexandre Leite às 14:51

link do post | comentar | favorito

Todos os textos aqui publicados são traduções para Português de originais noutras línguas. Deve ser consultado o texto original para confirmar a correcta tradução. Todos os artigos incluem a indicação da localização do texto original.

Ouça música enquanto lê isto!!! Rádio Blog da 'Informação Alternativa'

Ligações